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Câncer, e agora?

O que é o câncer? Por definição, um substantivo masculino que, segundo o dicionário, pode significar quatro coisas: (a) quarta constelação zodiacal; (b) quarto signo do zodíaco; (c) designação comum aos caranguejos; (d) doença caracterizada por proliferação celular anárquica, incontrolável e incessante. Quando se trata desta última, essa pequena palavra comumente (para não generalizar) gera sentimentos de medo, dúvida, preocupação, raiva, tristeza e diversos outros. Todos esses sentimentos circulam em torno não somente da doença em si – metástase, sequelas pós cirúrgicas, recidiva, sobrevida, prognóstico… – mas também dos efeitos que o tratamento causa – náuseas, queda do cabelo, ganho de peso… (diria que assunto para um outro texto).

Diante disso tudo, eu pergunto: como lidar com um pedaço de papel lhe informando que o resultado de sua biópsia é um câncer? Bom, independente da reação que isso cause nas pessoas, depois do turbilhão de coisas que se passam pela cabeça nesse momento, eu digo que é fundamental a aceitação. Embora até nessa parte exista um certo sentimento de raiva, porque não basta descobrir que está doente, tem que ser ágil para procurar ajuda médica, porque quando se trata de câncer, cada dia faz diferença no sucesso do tratamento!

Abro um parêntese para contar um relato um tanto interessante da minha mastologista (não perguntei se poderia divulgar o nome dela, portanto não farei menção), logo na primeira consulta (a saber, no dia seguinte ao da notícia do diagnóstico de câncer de mama), sobre uma característica que ela observou das pacientes dela: a influência da idade no curso do tratamento. Segundo ela, as pacientes mais jovens (abaixo dos 50 anos) e as mais velhas (acima dos 70 anos) encaram melhor a doença do que as pacientes desse intervalo (entre 50 e 70 anos). As pacientes mais jovens querem se curar rápido, não importando o que tenha que ser feito; as mais velhas já não se importam mais com questões estéticas e também só querem ser tratadas; as do intervalo são extremamente apegadas ao cabelo e ao seio, reclamam muito durante o tratamento e, por consequência, acabam reagindo muito mal ao tratamento (no sentido de efeitos colaterais), enquanto que as pacientes mais jovens e as mais velhas passam pelo tratamento de forma mais suave.

Mas como lidar com isso tudo? Muitas pessoas escondem do mundo que estão doentes. Eu digo: não faça isso! E não estou sozinha nesse pensamento. A Cancer Society of Finland (Sociedade do Câncer da Finlândia) publicou que os amigos dão suporte durante o tratamento, ajudando o paciente a permanecer forte e positivo. Quanto a família, quanto mais abertamente se puder conversar sobre, maior será o apoio1.

Bom, quero finalizar este tópico dizendo que aceitar uma doença, especialmente sendo esta crônica, não significa se render a ela. Quanto antes pelo contrário! O primeiro significado de “aceitar” no dicionário é: “consentir em receber (o que é dado ou oferecido)”, então eu pergunto: por que encarar o diagnóstico como sendo uma coisa totalmente ruim? Por que não aproveitar essa ocasião, em que se é obrigado a diminuir um pouco a rotina, para olhar para si? Seu corpo e sua mente precisam da sua atenção e cuidados! Atenção e cuidados que provavelmente você nunca tenha dado antes. Existe um ditado que cabe perfeitamente neste final: “você é a única pessoa que com certeza vai conviver com você durante toda a sua vida, logo, ame-se e cuide-se!”.

 

Sobre a Autora:

| Gabriela de Melo Franco

“Sou graduada em Ciências Biológicas, pela Universidade Federal de Ouro Preto, especialista, mestre e doutora em Microbiologia, pela Universidade Federal de Minas Gerais. Atuo no desenvolvimento de kits e métodos diagnósticos para detecção da infecção pelo HTLV (Vírus Linfotrópico de Células T Humano), para ser incorporado no contexto da saúde pública brasileira. Sou mineira, tenho 33 anos de idade e estou vencendo um câncer de mama.”