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IYPT Brasil 2019

Entre os dias 08 e 10 de março deste ano tive a oportunidade de participar de um evento que me trouxe significativo impacto. Participei, como jurado, da seletiva nacional do Torneio Internacional de Jovens Físicos (International Young Physicists’ Tournament – IYPT) em São Paulo (SP). Trata-se de uma competição científica anual voltada para alunos do ensino médio, idealizada originalmente em 1979 pelo professor Evgeny Yunosov, da Faculdade de Física da Universidade de Moscou. De caráter itinerante, as últimas três sedes do IYPT internacional foram China (2018), Singapura (2017) e Rússia (2016), com significativo destaque para Singapura, primeira colocada nas três últimas edições do evento. Em 2019, a etapa internacional do IYPT ocorrerá na cidade de Warsaw, Polônia, durante o mês de julho. Todos os anos, em torno de 30 países enviam uma equipe representante, composta por até cinco integrantes entre 15 e 17 anos. No Brasil, esta equipe é selecionada por meio de uma versão nacional preliminar do evento, que contou com a participação de 21 equipes em 2019, abrangendo escolas de diversos estados do país. Estas foram ranqueadas e as cinco primeiras ganharam o direito de enviar um representante cada para compor a equipe brasileira no IYPT internacional.

Todos os anos o Comitê Organizador Internacional compila 17 problemas a serem resolvidos nas seletivas nacionais e na etapa internacional. Os problemas são provenientes de várias subáreas da física e podem ser também interdisciplinares. Geralmente, as equipes selecionam em torno de 7 a 9 itens, dentro dos 17, e trabalham sobre eles. Segue, como exemplo, um dos problemas deste ano:

“Giroscópio teslâmetro: um giroscópio em rotação, feito de material condutor, mas não ferromagnético, desacelera quando posicionado em um campo magnético. Investigue como a desaceleração depende dos parâmetros relevantes.”

Como pode-se imaginar lendo o enunciado, não se trata de tarefas que podem ser resolvidas rapidamente, como em uma prova convencional. Elas demandam meses de preparação, experimentos, descrições teóricas e podem ter várias resoluções, de acordo com o caminho seguido por cada equipe. Durante o evento, tive a oportunidade de ver o mesmo problema duas ou três vezes, com abordagens significativamente diferentes e todas excelentes! Mas o grande diferencial do torneio é que, ao invés das provas tradicionais, são realizadas sessões denominadas Physics Fights (PFs). Os PFs são divididos em três ou quatro rodadas de acordo com o número de equipes envolvidas. A cada rodada, as equipes se revezam entre os seguintes papeis:

– Equipe Relatora: apresenta a essência da solução do problema, procurando atrair a atenção da audiência para as principais ideias, conceitos, teorias envolvidas e para as conclusões obtidas;

– Equipe Oponente: critica o relator, apontando, sempre que possível, erros ou imprecisões no entendimento do problema e nas soluções apresentadas, bem como identificando os seus pontos positivos;

– Equipe Avaliadora: apresenta uma avaliação dos prós e contras do desempenho do relator e do oponente;

– Equipe Observadora (presente somente nos PFs contendo quatro equipes): assume o papel de observadora, sem função ativa. Cada rodada tem duração aproximada de 50 minutos. Após isto, há um intervalo para a próxima rodada e a troca de papeis entre as equipes.

O momento mais impactante de cada Physics Fight é a etapa de confronto, propriamente dito. Nesta, durante 6 minutos (todas as etapas são rigorosamente cronometradas), um representante de cada uma das equipes relatora e oponente “duelam”, em pé, de frente um para o outro, em física! É fantástico e ao mesmo tempo assustador, de certa forma, ver pessoas tão jovens com uma compreensão tão significativa de aspectos físicos da natureza.

A nós jurados, cabia avaliá-los, após um treinamento de calibração com a comissão organizadora brasileira (B8 Projetos Educacionais), sob os seguintes aspectos:

a) Física: explicação do fenômeno e entendimento do enunciado, execução experimental e desenvolvimento da teoria/modelo, apresentando (pasmem!) aspectos de originalidade; b) Apresentação: ilustração e/ou demonstração do fenômeno e dos experimentos, clareza e organização e gerenciamento do tempo; e c) Discussão: respostas claras, completas, concisas e conduta cordial adequada.

Passado o final de semana intenso de competições, fui contemplado com uma chuva de sensações. A primeira delas é que existe uma significativa possibilidade de parte do futuro da física do nosso país estar ali entre aqueles jovens. Mas o que mais me chamou a atenção, de fato, não foram as questões acadêmicas futuras envolvidas e sim alguns aspectos sociais. Para chegar até a competição nacional presencial, houve uma seleção prévia de relatórios em que diversas outras escolas e equipes participaram. Foram horas e horas de estudo/trabalho dedicadas por professores e estudantes. A pompa da cerimônia final do evento não pôde se estender a todos eles, porém o envolvimento com a ciência, o engajamento na abordagem e resolução de problemas e o fato de vencer suas próprias dificuldades não podem ser apagados em cada um dos participantes. A meu ver, a pitada de competição, o clima de superação e a vontade de aprender muda positivamente, em alguma medida, a vida de todos ali envolvidos.

Veja a classificação final do IYPT Brasil 2019:

OURO:
Equipe: Tensores de Maxwell – Goiânia, GO

PRATA:
Equipe: Os Demônios de Maxwell – São Paulo, SP
Equipe: Baurus Relativísticos – São Paulo, SP
Equipe: Monociclo de Carnot – São Paulo, SP
Equipe: Back to the Physics – Valinhos, SP
Equipe: O Carro de Ruth é Ford – Fortaleza, CE
Equipe: Feiticeiros de Waverly Planck- Valinhos, SP

BRONZE:
Equipe: Não Sabemos Ainda – São Paulo, SP
Equipe: Sagan-me os bons – Goiânia, GO
Equipe: Desfoucault – Fortaleza, CE
Equipe: Olimpianos, Brasília, DF

MENÇÃO HONROSA:
Equipe: Steve Vai, mas só Alessandro Volta – Juazeiro de Norte, CE
Equipe: Sem Trocadilhos Físicos – Fortaleza, CE
Equipe: Watt’s Love? – Goiânia, GO
Equipe: Newtons do Cerrado – Brasília, DF
Equipe: Criatividade Nula – Teresina, PI

MELHOR TIME DE ESCOLA PÚBLICA:
Equipe: Steve Vai, mas só Alessandro Volta – Juazeiro de Norte, CE

Sobre o Autor

|Antônio Marques : 

“Antônio Marques é Bacharel em Química e Mestre em Físico-Química pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e Doutor em Química pela UFJF/Università Degli Studi di Udine (Itália), com estágio pós-doutoral no Departamento de Física do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA). No momento, é professor adjunto no Departamento de Química Fundamental da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro”