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O contato social e as máscaras faciais: o novo contraste adaptativo

Destaques:

1- Reconhecimento de expressões faciais no contexto pandêmico;

2- Aspectos adaptativos de emoções em faces como processo evolutivo.

 

O mundo está diferente, o que necessariamente não significa “estar melhor”. Talvez uma questão que marque definitivamente nossa evolução desde as suposições de Charles Darwin no livro “A expressão das emoções nos homens e nos animais”, seja o fato de que, a face que era visível e permitia nos orientarmos nos relacionamentos sociais, agora está mascarada para conter algo maior e “invisível”, como em uma tentativa de salvar ao máximo a espécie humana, nisso, vislumbramos o contraste adaptativo para com as expressões faciais.

Em nossos relacionamentos sociais, nos utilizamos de diversas pistas para interagirmos com outros humanos e talvez, a principal delas, sejam as pistas faciais de expressões de emoções. Fazemos isso desde a mais tenra idade, bebês recém-nascidos já apresentam uma tendência em preferir rostos que se assemelham a humanos e que sejam familiares, como os rostos das mães do que qualquer outra coisa quando apresentadas em seus campos visuais.

Temos um cérebro programado para reconhecer rostos familiares e não-familiares e suas diversas nuances, inclusive, até vê-lo onde não existe, um fenômeno chamado de pareidolia, uma tentativa do cérebro na busca por padrões de semelhança em objetos e coisas inanimadas como nuvens, pedras, casas, carros. Além disso, tendemos a evitar o contato visual para rostos desconhecidos e com expressões negativas como raiva e apresentamos maior afabilidade a rostos conhecidos e com expressões mais positivas como alegria e surpresa.

As emoções têm sua própria linguagem para cada uma das emoções tidas como universais, todavia, há contrassenso sobre sua universalidade. Em contrapartida, reconhecemos facilmente expressões de alegria, raiva, tristeza, nojo, surpresa e medo, essas pistas faciais nos orientam no dia a dia em nossos relacionamentos entre amigos, família, trabalho, como em um processo de luta ou fuga, se a expressão estiver boa, posso iniciar uma conversa, caso contrário, melhor esperar o chefe melhorar o humor e depois falar com ele.

Sobre isso, está a adaptabilidade da expressão das emoções, saber reconhecê-las e adequar o comportamento no ambiente evitando maiores consequências ou angariando consequências positivas, tudo depende do contexto e do objetivo, fazemos isso a todo momento. A pandemia decorrente da propagação da Covid-19 gerou o contraste da adaptabilidade, usávamos as pistas faciais de emoções para nos organizarmos socialmente, hoje, utilizamos as máscaras e “ocultamos” as emoções expressadas para nos mantermos vivos.

A boca é uma das principais pistas que buscamos para identificar as emoções nos outros, perdemos isso. Você se lembra da última vez que viu alguém sorrindo na rua? A não ser pela previsibilidade do contexto e os olhos cerrados, formando os famosos pés de galinhas e dando ideia de que os músculos ali estavam expressando alegria, isso talvez tenha sido o mais próximo que tenha chegado.

Socialmente falando e em nível de interação humana, é difícil perdermos essas pistas em nossos relacionamentos, aliás, somos seres essencialmente sociais, já perdemos os abraços em função do distanciamento social e parte das emoções nas faces, nisso, estamos evoluindo para novas ideias de adaptabilidade nos contextos de interações sociais, o que irá gerar e o que está gerando, são conjecturas para serem pensadas sob olhares mais humanos no ambiente científico.

 

Palavras-chave: neurociência; expressões faciais; interação social.

 

 

Fontes consultadas:

Darwin, C. A expressão das emoções no homem e nos animais. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.

Gendron M, Roberson D, van der Vyver JM, Barrett LF. Perceptions of emotion from facial expressions are not culturally universal: evidence from a remote culture. Emotion. 2014;14(2):251-262. doi:10.1037/a0036052

Ekman, P. A linguagem das emoções. São Paulo, Lua de Papel, 2011.

Pacheco, A.; Figueiredo, B. Preferência e habituação pela face/voz da mãe vs. Estranha em recém-nascidos. Psic., Saúde & Doenças, Lisboa,  v. 11, n. 1, p. 137-150,    2010 .   Disponível em <http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1645-00862010000100010&lng=pt&nrm=iso>. Acessos em 06 out.  2020.

Palmer CJ, Clifford CWG. Face Pareidolia Recruits Mechanisms for Detecting Human Social Attention. Psychological Science. 2020;31(8):1001-1012. Doi:10.1177/0956797620924814.

 

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Sobre a Autora:

|Lídia Encide

Lídia Encide é psicóloga, divulgadora científica e mestranda em neurociência cognitiva e comportamento pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB), João Pessoa. Entre as áreas que mais lhe interessam estão o funcionamento do cérebro, sobretudo, lesionados, visto que, possibilitam compreender e aplicar de forma mais aprofundada acerca de seu funcionamento, em especial, no reconhecimento de faces emotivas.