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Quando é importante sair da zona de conforto?

Quando iniciei minha vida científica, o primeiro laboratório que trabalhei foi na Universidade Federal Fluminense (UFF – RJ). O laboratório pesquisava novas drogas produzidas pelo grupo afim de descobrir novos compostos para tratamento de doenças cardiovasculares (tromboses/acidente vascular cerebral e tromboembolia pulmonar). Já no mestrado, realizado no mesmo laboratório no Programa de Pós-Graduação em Patologia (Hospital Universitário Antonio Pedro – RJ), segui com o mesmo raciocínio, expandindo os experimentos para modelos em animais (camundongos e ratos). 

No entanto, no final do mestrado, me peguei pensando: “Essas doenças cardiovasculares precisam de tratamento e alguns deles não são tão eficazes. Seria mesmo necessário realizar pesquisa com novos medicamentos, que poderiam levar anos para trazer algum benefício para a sociedade, ou seria possível modificar os medicamentos existentes para que sejam mais eficazes e, com isso, trazer um impacto realmente diferenciado e mais rápido?” Foi aí que tive a ideia de modificar esses medicamentos: utilizar como modelo clássico, o ácido acetilsalicílico (AAS), e modificar algumas abordagens. Por exemplo, utilizando farmacologia básica/química, será que eu poderia deixá-lo mais eficaz? Será que daria para modificar e diminuir a dose, diminuindo assim os problemas que tratamento prolongado com AAS causa? Entra, então, a nanotecnologia

Nanotecnologia é uma área relativamente “nova”, mas utilizada no nosso dia-a-dia e nem percebemos (por exemplo, utilizada em produtos alimentícios, de limpeza e cosméticos). Com isso, iniciei minha jornada nessa área, no Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas (PPGCF – RS). Foi uma experiência única que eu recomendaria para todos que querem expandir conhecimento. Mudar de área ou se aprofundar em estudos que não são o que está acostumado, a princípio, é aterrorizante e difícil. Mas vale a pena. Eu acredito que não teria aprendido tanto ou conhecido tanto se continuasse em minha área. 

No doutorado desenvolvi estudos com nanopartículas de AAS e um componente de direcionamento (ou seja, para que a nanotecnologia seja direcionada ao local desejado) com uma via de administração pulmonar. A via pulmonar se apresentou vantajosa devido aos efeitos colaterais do AAS estarem diretamente relacionados com a administração oral, podendo assim diminuir seus efeitos não intencionais. 

Assim, ao final do doutorado, percebi que uma internacionalização de currículo seria muito desejável como forma de expandir minhas experiências. Com isso, procurei grupos de pesquisa voltada para áreas de que eu tenho conhecimento. Atualmente, estou realizando Pós-doutorado em um laboratório com pesquisa nas áreas de nanotecnologia, trombose, câncer e COVID-19.

Com isso, como mensagem final, não tenham medo de mudar, de crescer, de aprender. Se você acha que já não está tão feliz em sua área e que não está aprendendo tanto quanto gostaria, você está certo. Sair da zona de conforto e procuras outros caminhos pode ser solução não só para a ciência, mas também para os pesquisadores. E mudar, muitas vezes, é a melhor coisa que se pode fazer.

 

Sobre o autor:

|Dr. Max Seidy Saito é biomédico formado pela Universidade Federal Fluminense (UFF – Brasil), mestre em Patologia Humana pela mesma universidade, e Doutor em Ciências Farmacêuticas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (PPGCF – Brasil). Atualmente é Pós-doutorando na Faculdade de Farmácia e Ciências Farmacêuticas na Universidade de Alberta (Edmonton, Canadá).