Rastreamento do novo coronavírus (SARS-CoV-2) através da vigilância ambiental

Um estudo recente realizado no município de Niterói, no Rio de Janeiro-RJ, utilizou uma abordagem ambiental denominada epidemiologia baseada em esgotos (wastewater-based epidemiology – WBE) (Polo et al., 2020) como uma ferramenta adicional para apoiar ações de prevenção e controle da doença de coronavírus 2019 (COVID-19) na região .  Essa abordagem é uma ferramenta útil, especialmente onde os recursos para o diagnóstico clínico são limitados e quando os sistemas de notificação estão indisponíveis ou não são eficientes. 

De acordo com o estudo referido anteriormente, rastrear o novo coronavírus (SARS-CoV-2) em águas residuárias permitiu acompanhar a evolução da disseminação viral na comunidade servida pelos sistemas de esgotamento sanitário. O estudo demonstrou que as taxas de detecção, bem como as concentrações de vírus obtidas em esgotos de diferentes localidades podem ser variáveis de acordo com as taxas de infecções e/ou oscilarem mediante medidas adotadas para controlar a dispersão da doença, como, por exemplo, lockdowns ou taxas de isolamento social, permitindo desenvolver, nesse contexto, um novo indicador de saúde ambiental. 

O estudo demonstrou também que o vírus foi detectado primeiramente na região das praias centrais (Icaraí), disseminando-se, posteriormente, para outras regiões, sobretudo para áreas com menores índices de desenvolvimento humano (IDH) e comunidades vulneráveis. Através dos resultados iniciais obtidos com amostras de esgoto de uma comunidade vulnerável, em que foi verificada uma alta carga viral presente na rede de esgotamento, foi possível acionar a Secretaria de Vigilância em Saúde e o Programa Médicos da Família (PMF), que promoveram uma intervenção na área, afim de prevenir e controlar a doença. Os dados obtidos nas semanas subsequentes demonstraram que tais intervenções foram efetivas para redução das cargas virais mensuradas através do esgoto, bem como o número de infectados na região. Dessa forma, sistemas de vigilância epidemiológica baseadas na detecção do agente patogênico em esgoto se mostraram promissoras e devem ser utilizadas com maior intensidade no futuro, tanto para a prevenção da COVID-19, como no contexto de novas pandemias. 

Sobre a Autora:

|Tatiana Prado

Tatiana Prado é formada em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp/SP), mestre em Saúde Pública e doutora em Ciências, ambos pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz/RJ). Tem experiência na área de microbiologia geral, com ênfase em virologia e atualmente desenvolve pesquisa no Laboratório de Virologia Comparada e Ambiental da Fiocruz/RJ, com foco na vigilância de vírus entéricos e emergentes no ambiente. Contato: tatianaprado436@gmail.com

|Referências:

Polo, D., Quintela-Baluja, M., Corbishley, A., Jones, D.L., Singer, A.C., Graham, D.W., Romalde, J.L., 2020. Making waves: wastewater-based epidemiology for COVID-19 –approaches and challenges for surveillance and prediction. Water Res. 1, 116404. doi: 10.1016/j.watres.2020.116404.

Prado, T., Fumian, T.M., Mannarino, C.F., Resende, P.C., Motta, F.C., Eppinghaus, A.L.F., Vale, V.H.C., Braz, R.M.S., de Andrade, J.S.R., Maranhão, A.G., Miagostovich, M.P. 2021. Wastewater-based epidemiology as a useful tool to track SARS-CoV-2 and support public health policies at municipal level in Brazil. Water Res, 191, 116810. https://doi.org/10.1016/j.watres.2021.116810