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UAI, me conta?!: Marie Curie em Belo Horizonte

A chegada de Marie Curie e sua filha no Brasil, em 1926.

 

Marie Curie foi uma das mais notáveis cientistas que o mundo já viu. Foi a primeira mulher a ganhar um Prêmio Nobel de Física (1903) e o de Química (1911). Com suas pesquisas sobre radioatividade, ela trouxe diversos avanços para a Química e descobriu dois novos elementos químicos, o Polônio (nome dado em homenagem a seu país natal) e o Rádio (nome que depois originou o termo radioatividade).

 

E vocês sabiam que a Madame Curie já esteve no Brasil? E mais especificamente em nossa querida capital mineira? Pois é, vou te contar essa história!

 

Primeiro vou te contar uma curiosidade sobre essa visita ao Brasil. Madame Curie e sua filha, Irène Curie, estivem em nosso país no período de 15 de julho a 28 de agosto de 1926. Na época Marie tinha 59 anos e Irène 29. A segunda filha de Marie e Pierre Currie, Éve, na época com 21 anos, recebeu cartas de Marie sobre sua vinda ao Brasil. Em um dos trechos dessa carta, Marie diz: “[…] temos visto peixes voadores. Temos visto que a nossa sombra pode ser reduzida a quase nada, pois temos o sol sobre as nossas cabeças. Vimos as constelações conhecidas desaparecerem no mar: a estrela Polar, a Ursa Maior. No Sul emergiu o Cruzeiro do Sul, uma constelação muito bela. Eu sei muito pouco acerca das estrelas que a gente vê por aqui […]”. Pelo trecho acredito que vocês já devem ter percebido, a viagem de Marie feita para o Brasil foi feita de navio pelo Atlântico Sul, que durou 13 dias.

 

Ao chegar no Brasil, Marie e sua filha foram recebidas por autoridades da época no Rio de Janeiro. Desta-se entre essas pessoas, o médico Juliano Moreira (importante nos estudos sobre psiquiatria no Brasil) e por Roquette Pinto (considerado um dos pais da radiofusão). Durante sua visita, Marie foi também acompanhada de Bertha Lutz, zoóloga de profissão e uma das figuras mais importantes no movimento feminista brasileiro, na época, com 32 anos, Bertha era presidente da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino.

 

E claro, ela também não perdeu a chance de se banhar na baía de Guanabara na Cidade Maravilhosa!

 

A passagem pela capital mineira, Belo Horizonte!

 

Em agosto de 1926, Madame Curie e sua filha, Irène Curie, visitaram Belo Horizonte. Ambas chegaram no dia 17 de agosto do então ano, de trem vindo do Rio de Janeiro. Se hospedaram no Grande Hotel (onde hoje é o edifício Arcangelo Maletta) que ficava na esquina da Rua da Bahia com a Avenida Augusto de Lima.

 

Na época, o Jornal Minas Gerais registrou a chegada de Marie e sua filha em Belo Horizonte. Nas edições do dia 16 e 17 de agosto, intitulado “O Poema do Rádio”, têm-se alguns recortes:

 

“[…] a Sra. Curie está ainda em pleno vigor da vida. Tem 59 annos.”

 

“Bello Horizonte hospeda, desde hontem, a notavel radiologista franceza madame Curie, credora da maior admiração do mundo scientifico, pelo abnegado esforço e louvavel dedicação com que se tem empenhado, no labor constante das descobertas de applicações radiologicas, na sciencia medica, para minorar os sofrimentos da humanidade.”

 

“Madame Curie, que viajou em carro especial […], vem acompanhada de sua filha senhorinha Irene Curie […] A ilustre senhora desembarcou debaixo de demorada salva de palmas […]”

 

No dia 17 de agosto, Marie e sua filha visitaram o Instituto do Radium em Belo Horizonte, um importante centro de estudos e tratamento de câncer, o primeiro do Brasil, inaugurado em 7 de setembro de 1922! As assinaturas de Marie e Irene foram deixadas no livro de registro de visitas do Instituto.

 

O Jornal Minas Gerais também registrou sua visita ao Instituto:

 

“[…] esteve hontem, acompanhada de sua comitiva, em diversos estabelecimentos hospitalares. Foi primeiro ao Instituto do Radium, onde foi recebida pelo director, sr. dr. Borges da Costa, corpo clinico e demais funccionarios. Examinou detidamente todos os departamentos daquelle instituto, referindo-se elogiosamente á sua perfeita organização e irreprehensivel apparelhamento.”

 

Hoje o prédio abriga o Hospital Borges da Costa, que faz parte do complexo do Hospital das Clínicas da UFMG. Atendendo mais de 15mil pacientes por mês, nas áreas de pediatria, psiquiatria e oncologia.

 

No mesmo dia, Marie realizou uma conferência sobre radioatividade e suas aplicações da Faculdade de Medicina. Uma curiosidade interessante dessa conferência, era que estava entre os presentes, o ex-presidente Juscelino Kubstcheck, com 24 anos, mineiro, de Diamantina, além de Guimarães Rosa, com 18 anos, meneiro de Cordisburgo, que na época ambos cursavam faculdade de Medicina nessa mesma instituição.

 

Ainda nesta visita, Marie presenteou o Instituto com três tubos de Rádio, um elemento químico radioativo que é utilizado em radioterapia e foi descoberto por Curie, que lhe concedeu um de seus dois Nobel. Esses tubos de Rádio eram amplamente utilizados na época na curioterapia, que consistia na aplicação direta do material radioativo no tumor.

 

A passagem de Curie pelo Brasil destaca, entre suas inúmeras contribuições, o seu compromisso de aproximar a ciência da sociedade e seu poder de influenciar a criação de espaços dedicados à ciência, como os institutos no Brasil, Estados Unidos e Inglaterra. Uma cientista atemporal, brilhante e poderosa!

 

Seria ela uma celebridade Pop da Ciência?

 

Seu legado.

 

São muitos os aprendizados! Sua vida e obra é uma verdadeira fonte inesgotável de conhecimento que o mundo ganhou.

 

Os caminhos que ela corajosamente percorreu na ciência, na educação e de modo geral, na vida comum, são objetos de estudos de inúmeras pesquisas que colocam lupas minuciosas em cada passo dado por ela em vida e que diariamente nos apresentam mais informações a seu respeito, aumentando ainda mais o seu legado e nos dando motivos de sobra para considerá-la uma das maiores personalidades da história da ciência.

 

O entendimento de que Curie foi por vezes a única mulher em diversos espaços, seu compromisso com questões complexas de seu país e sua atuação na Primeira Guerra Mundial, diz muito do seu protagonismo em causas justas.

 

Desafiar costumes e a dedicação inspiradora ao trabalho científico com otimismo são elementos importantes de sua extensa e relevante bibliografia, que contém em suas páginas, a visita de ampla repercussão em Minas Gerais. Os jornais locais, na época, destacavam a sua vitalidade com os estudos científicos, sua notoriedade e potencial para minorar os sofrimentos da humanidade.

 

Fato é que a ciência deve muito a essa mulher, e a nossa Minas Gerais tem que se orgulhar de um dia ter tido a ilustre presença desse fenômeno chamado Marie Curie em nossas terras. 

 

| Por Mateus Vinícius

Colaboração: Caio Souza

Revisão: Equipe UAI, me conta?! (Fernanda Honorio, Jane de Oliveira, Juliana Fedoce e Willian Costa).

 

| Referências:

Rodrigo Andrade de Oliveira. Mineiros contra o câncer. Disponível em: https://revistapesquisa.fapesp.br/mineiros-contra-o-cancer/

Simal, C. J. R.; Parisotto, V. S. Um pouco da vida e da obra da Madame Curie e os 85 anos da sua visita a Belo Horizonte. Rev Med Minas Gerais 2011; 21(3): 361-368. Disponível em: https://rmmg.org/artigo/detalhes/183

Simal, C. J. R.; Parisotto, V. S. Um pouco da história do Instituto do Radium de Belo Horizonte. Rev Med Minas Gerais 2011; 21(3): 353-360. Disponível em: https://rmmg.org/artigo/detalhes/182

André Bernardo. A visita ao Brasil de Marie Curie, única mulher a ganhar duas vezes o Nobel. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/articles/c517y8yvz73o

Mulheres na Física: Casos históricos, panorama e perspectivas. Disponível em: https://www1.fisica.org.br/gt-genero/images/arquivos/Mulheres_Pioneiras_/livro-mulheres-na-fisica.pdf

Fenelon, S.; Almeida, S. S. A histórica visita de Marie Curie ao Instituto do Câncer de Belo Horizonte. Radiol Bras 2001;34(4):VII–VIII. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0100-39842001000400002

Ciência para todos: Madame Curie esteve aqui. Disponível em: https://www.ufmg.br/cienciaparatodos/wp-content/uploads/2011/11/37-madamecurieesteveaqui.pdf