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Vozes na ciência: feministas e pessoas pretas

“Quando eu desvio do que você conhece, você teme. Quando eu reconheço que também sou, você teme. Quando eu grito que esse peito, suas facas não cortam, você atravessa a rua e finge, só finge, que não existo, que não existimos, que não tomamos sua rua, seu bairro, sua cidade, seu país, seu MUNDO e fizemos dele nosso também. Porque eu caibo nesse universo, a minha voz ecoa no seu rádio de pilha e os tubarões, agora, moram em mim.”

 

É assim que Esteban Rodrigues, um escritor preto, transexual e baiano, descreve sua existência em “com mãos atadas como quem pisa em ovos”. É dele a voz, que introduz a produção científica das próximas linhas.  “Independente” é a qualidade da sua voz que registra a contribuição intelectual de grupos plurais e invisibilizados na história e na ciência. Esses grupos são compostos por pretos, feministas, LGBTQIA +, latinos e demais povos, que não recebem devidamente os créditos quando o assunto é a produção do conhecimento científico.

 

A ciência de hoje foi construída por esforços de minorias, que, ao terem seus direitos atravessados por estratégias de desumanização, resistiram e defenderam o direito universal de produzir conhecimento científico com dignidade. Dessa forma, o progresso na ciência está vinculado às iniciativas de identificação de obstáculos , reconhecimento de desigualdades e busca por direitos.

 

Como amplificadores de som na história, em 1971, estudantes pretos da Universidade do Arkansas, nos Estados Unidos, assumem a responsabilidade de informar os universitários sobre discussões de direitos no meio acadêmico. Destaca-se a importância desse ato pela coragem e a habilidade, de um grupo de minorias, para liderar ações que promovessem uma comunicação mais livre de ideias para aqueles que se sentiam pessimistas diante dos obstáculos impostos nos programas de produção científica da universidade na época, que desconsideravam as ambições e realidades dos universitários.

 

Esse esforço contribuiu para que hoje tenhamos diálogo entre diferentes frentes no ambiente universitário, entre elas, estudantes. Esse momento imprime a identidade coletiva desse povo e o desejo construtivo de diversificar as vozes na ciência, isso porque já se compreendia que os avanços nas lutas de minorias eram em passos coletivos, em um esforço mútuo de educar, amplificar e reeducar constantemente, sem distinção.

 

Ainda neste contexto, feministas pretas reconhecem que carregam a universalidade de serem mulheres e a singularidade de serem mulheres pretas [na ciência]  e usam de suas vozes para humanizar causas revolucionárias e destacar temáticas feministas, isso porque as vivências de mulheres pretas na academia e na ciência passam por inúmeros casos de opressão, invisibilidade, violência e descrédito.

 

Em um movimento pluralista e de forma estratégica, feministas educam e incluem estudantes, de diferentes realidades, em discussões sobre mudanças nas políticas e condição de programas que não sejam de seus interesses e enfocam a ausência de mulheres em cargos de liderança no meio acadêmico, pressionando espaços institucionais e emergenciando políticas de equidades.

 

A intelectualidade preta e feminista é tão provocativa e construtiva ao ponto de serem omitidas, distorcidas e retiradas de currículos escolares e formações científicas, porém são vibrantes, como vozes e promovem perturbações.

 

A quem interessa a invisibilidade de povos e suas inúmeras contribuições para a ciência? Como ampliar os convites para pensar bibliografias atualizadas na ciência?  Como promover organização social e cidadania a partir de uma narrativa de ciência construída por multiculturas?

 

Soar e seu [convite] missão de recontar a história!

 

| Por Caio Roberto de Souza

Licenciado em Química (UNIFEI), estudante de Jornalismo (UNINTER) e Divulgador Científico no Instituto Sua Ciência. Cientista interessado por Comunicação Pública de Ciência, em especial, Divulgação Científica e Jornalismo Científico. Medalhista da Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica (OBA), mineiro e sambista (aprendiz) da soberana Beija-Flor de Nilópolis.

 

| Revisado por Lidia Lopes Ozório

Graduação em Pedagogia, Universidade Vale do Rio Verde (1991); Pós Graduação em Psicopedagogia ( 1998); Especialização em História, Literatura e Cultura Africana e Afro-brasileira, Universidade Castelo Branco (2008); Mestrado em Letras, Linguagem, Cultura e Discurso pela Universidade Vale do Rio Verde (2005). Atua na área de Educação e seus temas de ensino e pesquisa são: diversidade, cultura e educação, relações étnico-raciais e educação, formação de professores e diversidade étnico-racial, políticas educacionais, movimentos sociais e educação.

 

| Referências

JSTOR – Independent Voices. Disponível em: https://www.jstor.org/site/reveal-digital/independent-voices/?so=item_title_str_asc&searchkey=1714697703033

Pinheiro, Bárbara; Rosa, Katemari; (Orgs.). Descolonizando saberes. A lei 10.639/2003 no ensino de ciências.

Rodrigues, Esteban. Com mãos atadas e como quem pisa em ovos.